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Justiça

PF indica que propinoduto na Educação envolvia alto escalão

Por Wander Lopes

30/05/2025

 

Com 85 páginas, o relatório da Polícia Federal que fundamentou os pedidos de busca e apreensão da operação Vox Veritatis, no dia 21 de maio, em Campo Grande e no Rio de Janeiro, deixa claro que o ex-secretário adjunto da Secretaria de Estado de Educação, Edio Antonio Resende de Castro Bloch, era somente um peão de um suposto esquema de corrupção que envolvia um chefe bem maior. 

A investigação, deixa claro o delegado Marcos Damato, da Polícia Federal, ficou restrita a dois contratos que envolveram uso de recursos federais, mas as suspeitas são de corrupção em uma série de outras compras. As informações relativas a estes outros contratos, informou o delegado em seu despacho enviado ao juiz, seriam enviadas posteriormente ao Ministério Público Estadual. 

O primeiro e mais forte indicativo de que Edio, demitido em novembro de 2023, durante a operação Turn Off, não era o destinatário final das supostas propinas aparece na página dez do relatório da Polícia Federal. Os dois contratos na mira da PF eram da gestão estadual que acabou em 2022.

Em diálogo entre os empresários alvos da operação do último dia 21, eles se mostram insatisfeitos porque teriam de juntar R$ 1 milhão em espécie e entregar para uma pessoa ou instituição que Leonardo identifica como “Sistema solar”. 


Para a PF, ele estava se referindo “aparentemente a alguém de alto patamar na Administração Pública”. O delegado, porém, não entra em detalhes sobre quem seria esta pessoa ou instituição de “alto patamar”.  

Esta “omissão”, contudo, costuma ser uma estratégia para que a investigação não precisasse subir para instâncias superiores caso envolvesse alguém com foro privilegiado, como governador, deputado ou senador. 

O diálogo que menciona o “Sistema solar” ocorreu em 7 de fevereiro de 2022 e os interlocutores deixam claro que não concordavam com o valor. “Quem combinou juntar isso”.  Foi "Gordim”, responde Leonardo.

Gordim, segundo a PF, seria Luiz Gonzaga Crosara Júnior, primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul, uma das principais entidades do chamado sistema S (Sesi, Senai, Sesc, Senac, Senar e Sebrae).

“Não tô entendendo esse cálculo dele, de comissão vai dar 1.687.000,00. E vai arrumar 1 milhão? E aí?”, reclama.  “Mas disse, cara, pediu”, respondeu Leonardo.

Logo na sequência, um dos empresários afirma que “sem chance, amanhã falo com ele. Tem que ser proporcional. Comprou 30 milhões licitados, pagou 11. Vai receber 1/3 da comissão. Enfim”. 

Ou seja, eles estavam dispostos a pagar a propina somente sobre o valor que já havia sido liberado, que era em torno de R$ 11 milhões sobre a compra de mobília escolar. 

Em outro trecho do relatório, na página 21, Leonardo volta a mencionar que o Edio é somente um intermediário. O “chefe tá sem din din”.  “Tá doido” “muito fominha”, responde Leonardo.

Para a PF, “aparentemente o CHEFE que quer dinheiro é o próprio EDIO ou o chefe deste, pois geralmente se referem a EDIO pelo nome”. 

HISTÓRICO
Durante a administração de Reinaldo Azambuja à frente do Governo do Estado, Edio de Castro Bloch foi secretário adjunto e ordenador de despesas da Secretaria de Estado de Educação e se manteve no cargo durante os primeiros 11 meses do Governo seguinte, até ser demitido em novembro de 2023. 

No ano passado, o orçamento da Secretaria de Eduação foi de 3,179 bilhões, o que foi 16,3% acima dos R$ 2,732 bilhões do ano anterior. A pasta teve cerca de 800 milhões de reais a mais que a Saúde, a segunda colocada, cujo orçamento em 2024 foi de R$ 2,308 bilhões. 

Depois da demissão  de Edio, o novo adjunto da Educação perdeu poderes e ficou sem o controle da “chave do cofre”. Edio tinha poder para assinar contratos, acertar aditivos, romper contratos, decidir se determinada compra seria feita com ou sem licitação e dava a ele o poder de homologar ou cancelar o resultado de licitações.

Edio de Castro começou suas atividades no serviço público em Maracaju, quando o prefeito era Reinaldo Azambuja. Depois, quando Azambuja foi eleito para deputado estadual, Edio foi nomeado na Assembleia Legislativa. Para o cargo estratégico na secretaria com o maior orçamento da administração estadual ele foi nomeado quando Reinado foi eleito governador. 

O relatório da Polícia Federal relativo à operação Vox Veritatis, porém, não faz nenhuma menção sobre a pessoa que seria o seu possível chefe ou o destinatário final das supostas propinas que costumava cobrar. 

                      Fonte Correio do Estado

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