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Capital

Centro de Campo Grande perde força: multas, falta de vagas e abandono aceleram o êxodo de comerciantes para os bairros

Por Wander Lopes

14/05/2025

 

Campo Grande vive uma transformação silenciosa — e preocupante. Enquanto a prefeitura anuncia a ampliação do sistema de monitoramento eletrônico nas vias da cidade, triplicando o número de equipamentos, a população sente os efeitos diretos no bolso e no cotidiano. A promessa de mais segurança no trânsito vem acompanhada por uma onda de multas, alimentando o sentimento de que se instalou na capital uma verdadeira “indústria da penalização”.

Ao invés de campanhas de conscientização e melhorias no transporte e na mobilidade, a aposta tem sido no aumento da fiscalização eletrônica, que vem se tornando sinônimo de arrecadação. Em paralelo, o centro da cidade enfrenta um abandono progressivo, marcado pela escassez de vagas de estacionamento, alterações urbanas mal planejadas e crescente afastamento da população.

Estacionar no centro virou desafio. Muitos desistem antes mesmo de tentar. “Não vale mais a pena manter o ponto comercial aqui. Meus clientes vivem reclamando da falta de vaga, e quando conseguem estacionar, são surpreendidos por notificações de infrações”, comenta um lojista que, após décadas no centro, decidiu encerrar as atividades e abrir novo espaço no bairro onde mora.

Essa é uma tendência em ascensão. Cada vez mais comerciantes têm transferido seus estabelecimentos para os próprios bairros residenciais. Em busca de menor custo, maior acessibilidade e proximidade com os clientes, muitos enxergam nos bairros uma alternativa mais viável para manter os negócios funcionando. O movimento representa não apenas uma mudança de endereço, mas um sintoma claro da falência de políticas públicas voltadas à revitalização do centro urbano.

A cidade parece caminhar na contramão do que se espera de uma capital inclusiva e funcional. Com decisões que afastam o cidadão do espaço público central, o centro de Campo Grande corre o risco de se transformar em um vazio urbano, onde sobram radares e faltam pessoas.

A urgência é por um novo olhar. Um projeto que escute quem vive a cidade, que promova equilíbrio entre fiscalização e orientação, que estimule o comércio local e recupere a identidade do centro. Antes que o último lojista apague as luzes da vitrine e leve sua placa para o bairro.

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