Debandada tucana: saindo pela direita como quem não quer perder o cargo

Campo Grande – A temporada de migração começou mais cedo este ano. Só que não estamos falando de aves migratórias, mas dos tucanos políticos que, de bico em bico, preparam suas malas (e mandatos) para saltos estratégicos rumo a novas siglas – curiosamente, sempre à direita no mapa ideológico. A debandada, que já era esperada, agora assume proporções olímpicas: é cada salto triplo mortal mais ensaiado que performance de ginasta.
Nos bastidores, a movimentação lembra uma liquidação: “Leva-se um mandato, ganha-se um carguinho”. A sigla que um dia se vendeu como centro, equilíbrio e ponderação agora virou sala de espera de hospital político: todo mundo entra, mas ninguém quer ficar. “Não é que a gente está abandonando o partido... é o partido que ficou pra trás”, comentou um tucano veterano, ajeitando discretamente o broche da nova legenda na lapela.
Entre os motivos para o salto, há desde “divergências ideológicas profundas” (que coincidem curiosamente com o calendário eleitoral) até “alinhamentos programáticos” (leia-se: promessas de espaço em campanhas com chances reais de vitória). A debandada tem sido silenciosa como um drone espião e súbita como uma chuva de verão: quando se vê, já foi.
Analistas apontam que, no fundo, trata-se de uma espécie de Darwinismo político: quem sobrevive não é o mais fiel ao ninho, mas o mais rápido em encontrar um novo galho pra pousar.
Enquanto isso, o PSDB — ou o que restar dele — segue em reuniões internas, diagnosticando o problema com a seriedade habitual. Um dirigente confidenciou: “Estamos repensando nosso posicionamento… talvez criar um aplicativo de rastreamento de filiados ajude”.
Por ora, a única certeza é que a debandada continua. Tucano que se preze já está com o bico apontado para o horizonte — de preferência, com legenda nova, fundo partidário generoso e palanque garantido.
Afinal, política é arte do possível. E do portátil também.